terça-feira, 15 de maio de 2012

13/05/12
                                   
          A SECA É UMA OPÇÃO POLÍTICA


Fotos da internet
          

Jonas Duarte professor da Paraíba

 

À minha frente, quando ergo a cabeça para ler o que escrevo vejo o livro de Alfredo Macedo Gomes – Imaginário Social da Seca. Lembro o que está lá dentro. Alfredo fez uma série de entrevistas e condensou em dados e análises a visão que os próprios sertanejos têm do que é a seca. Imaginam ser coisa de Deus. Em muitos casos, como castigo. O livro de Alfredo está ladeado de relatórios de políticas públicas desenvolvidas para o Semiárido Brasileiro – SAB – “Relatório do “PROHIDRO” e do “Programa de Irrigação”; “Programa de Agroindústria e Proálcool”, “Projeto Sertanejo”, “PAPP”... Quanto papel !!!
Que os povos do sertão semiárido brasileiro sintam a seca como castigo, no patamar cultural onde o mítico-religioso supera o conhecimento sociohistórico é aceitável. Que se interprete assim o fenômeno, numa área em que o Estado brasileiro nunca chegou com Educação Contextualizada, com o mínimo de promoção da cultura local, do diálogo entre saberes populares – saberes científicos, tudo bem. O que não é aceitável é a seca “pegar” desprevenido os poderes constituídos em nossa República. É a constatação viva do que representa e a quem serve o Estado brasileiro.
A estiagem, a falta de chuvas é um fenômeno climático, natural, portanto, do cotidiano dessas bandas do Brasil. O fenômeno socioeconômico, decorrente dessas estiagens não. Esse é a expressão viva de nossa incompetência. Na realidade, o termo “incompetência” não é o mais adequado, pois não expressa corretamente o que acontece. Não é só incompetência. É opção política. Isso mesmo: a seca no semiárido brasileiro, como fenômeno sociológico de proporções dramáticas é fruto da opção política do Estado brasileiro, dominado por interesses escusos às necessidades populares.
São históricas as lições dos nossos povos do semiárido, de nossa vegetação e da nossa fauna em sua arte de conviver com a estiagem. Nas últimas duas décadas, sintetizamos e produzimos conhecimento científico, tecnologias e técnicas suficientes para convivermos sem “aperreio” com as longas estiagens. ONG’s, Embrapas, Emater’s e uma gama de instituições governamentais e não governamentais já diagnosticaram e propuseram políticas públicas para promovermos condições de se viver dignamente nos sertões semiáridos do Brasil com a natural falta de chuvas. Então, o que falta para pôr em prática essas técnicas, tecnologias, conhecimento científico e saberes populares? Uma só resposta: vontade Política. Não é outra coisa. E quando falta vontade política, falta recursos financeiros, técnicos, carros, combustível e todo um arsenal material e metodológico capaz de criar outra lógica de desenvolvimento nas terras secas e boas do Brasil. E continuamos despreparados e despreparando as gentes do semiárido brasileiro para conviver com o fenômeno climático natural de seu território.
É importante lembrar que a “seca”, enquanto fenômeno climático transforma-se no drama de muitos e na alegria de alguns. Alguns poucos, em plena agonia dos sertanejos faturam econômica e politicamente nessas crises. É cruel, parece desumano, mas é a pura verdade e obedece à lógica do capital. Para dar um exemplo: já imaginaram quanto está faturando a Bünge, com os atuais preços estratosféricos de seu farelo de soja? Ela, monopólio absoluto no fornecimento desse insumo para alimentar rebanhos em todo o semiárido, que subiu nos últimos meses, cerca de 100%. Sem nenhum limite governamental, nenhuma regulação de preços. Sem nenhuma atitude digna de que expresse coragem em favor dos seus consumidores. Agem livres, inçados pela lei da oferta e da procura. Pergunto: para que serve a CONAB? Por que não regular o preço desse produto, como teoricamente fazem com o milho? Será que é porque a soja, no grosso é produzido e comercializado por grandes corporações multinacionais? Os insumos da agropecuária nordestina/sertaneja subiram 100%, sem nenhuma ação governamental ou jurídica que protegesse esses consumidores, produtores do leite que consumimos.
Por que se emperram tanto os financiamentos para construções das cisternas e de todo um conjunto de pequenas obras de estocagem de água e alimentos para os povos e os bichos do semiárido? Medidas de custos financeiros tão baixos e de alcance social altíssimos...
Para mim é tão claro que falta vontade e compromisso político, que não me surpreendem mais os discursos demagógicos. Quanto não foi gasto na obra da transposição? Que denunciávamos e continuamos denunciando como inócua para a convivência com a seca no nosso semiárido e que poderia se tornar num sumidouro de dinheiro como denunciam hoje os próprios defensores daquela obra. Dinheiro que fez e faz falta para construir adutoras a menos de 1 (um) quilômetro do São Francisco. Que poderia ter construído diversas cisternas, silos e outras tecnologias de estocagem de água e alimentos na região. Quanto de dinheiro não é retirado de políticas públicas que poderiam preparar, técnica e materialmente, os sertanejos para estocarem água, alimentos humanos e animais, para enfrentar o período de estiagem com dignidade e tranqüilidade, como muitos fazem por iniciativa própria em pleno território mais seco do Brasil.
Conheço diversos agricultores que enfrentam a estiagem com certa tranqüilidade. Preparados para ela. Realidade que poderia ser generalizada Brasil afora, com custos baixíssimos comparados a certas obras faraônicas. Mas a opção política ainda é a mesma: encher as burras de empreiteiras, corporações, bancos e oligarquias, dando razões atualizadas à Gilberto Gil e sua “Procissão”.
Texto enviado pelo leitor Edmerson dos Santos Reis,Prof. do Departamento de Ciências Humanas - DCH-III Uneb em Juazeiro.
Imagem ilustrativa da internet

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